Saudade.
Dizem que a saudade é um lugar que só chega quem amou.
Eu concordo completamente.
Saudade faz parte da vida.
Lembrar-se do que passou e sentir um aperto no peito.
Aperto que dói quando se dá conta de que quem amamos está
tão longe. Ou se foi para sempre.
Saudade dos momentos que ajudaram na construção do que
somos hoje.
Eu sinto saudades, muita.
Quando eu era criança, me lembro bem, achava as manhãs de
sábado os dias mais lindos! E dizia que o dia estava maravilhoso e diferente. Era
só porque eu nunca via as outras manhãs, pois estava numa sala de aula. Sinto
saudade de me maravilhar com as manhãs de sábado.
Era tudo tão saboroso, o brigadeiro, a pizza feita em
casa, o quindim da padaria, o picolé do carrinho, tudo tinha gosto de verdade. Sinto
saudade do gosto.
Eram os domingos de coca cola, os aniversários nas
garagens, os especiais na TV no fim de ano. Era o amigo secreto na escola, os
amigos de todas as horas, as peças de teatro.
Era andar descalço, queimar o pé no asfalto quente e
brincar até escurecer. Entrar em casa, tomar banho, jantar e só esperar para
que no outro dia a alegria se repetisse.
Problemas grandes? Muitos. Tênis que descolava, mal
entendido entre amigos, nota vermelha na prova.
Os anos passavam devagar e nós sentíamos cada mês, cada
semana, e seus acontecimentos. Saudade de sentir o tempo passando sem pressa.
Íamos a parques, a hortos, estendíamos uma toalha e fazíamos
piquenique, há quanto tempo não ouço piquenique, os macacos roubavam nossa
comida.
Éramos lindos, todos, havia os mais populares e os menos,
o mais gordo e o mais magro, mas nos aceitávamos da maneira mais honesta possível,
porque ainda éramos capazes de nos apegar no que realmente éramos por dentro e não
que aparentávamos.
Dava para dormir uma noite toda. Sem insônia, sem preocupações
antes de pegar no sono, sem medo. Saudade de não sentir medo.
Descobrimos nessa época quem seria nosso pelo resto da
vida. Quem iríamos amar para sempre. Por quem iríamos comprar briga, e estar
por perto, e torcer. Olhávamos nos olhos sem medo e dizíamos coisas como “eu te
amo”, “você é o meu melhor amigo”, “não saberia viver sem você”.
Queríamos ser ricos, mas gostávamos da simplicidade da
nossa casa, e das nossas coisas.
Queríamos o mundo, porque dentro de nós havia uma única e
grande meta, a de ser feliz.
Eu me lembro de tudo o que aconteceu comigo, e sou tão grato
por sentir saudade. Porque eu sei que eu não me perdi no caminho. Eu ainda
tenho uma única e grande meta, eu ainda quero o mundo. Mas sinto saudade dos
cheiros, dos gostos, dos rostos, das declarações, e de toda intensidade.
Saudade dos amigos que não vejo mais.
Saudade, simples e pura saudade.