segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Não sou...


Eu não sou o mesmo de dez anos atrás.
Entenda isso.
Os meus acertos sim, são méritos meus.
Os erros, bom, os erros são de alguém que certamente nem existe mais.
Depois de cada um deles eu fui obrigado a me refazer.
Levantei, e decidi ir adiante.
Ando sonhando tanto.
Sonho com dias diferentes, com cores diferentes.
Sonhar é necessário pra mim.
Eu não espero o concreto, sempre me encantei mais com o abstrato.
Não quero o tangível.
Por isso me apego tanto a sonhos, a realidades que eu mesmo posso inventar, a reinos onde vou de rei a plebeu.
Eu não sou o mesmo de dez anos atrás.
Naquela época eu acreditava que deveria fazer tudo em nome da felicidade.
Hoje penso em fazer tudo em nome da paz.
Tranquilidade salta muito mais aos meus olhos, nos tempos de hoje.
Quero ser sempre o que não fui.
Quero ter o que é diferente.
Me contento com os poucos amigos que tenho.
Sei que posso contar comigo, e com os meus reinos.
Lá onde puramente piso por entre as nuvens.
Onde canto canções que nem sei.
Onde criei um mundo que nem saberia que pudesse existir.
Os meus lugares só são possíveis porque eu mudei.
Porque eu não sou o mesmo de dez anos atrás.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Inquietude


Por mais que tentemos pensar o contrário, estamos sozinhos.
O intenso se passa dentro de nós e não com quem está conosco.
Pode sim haver solidariedade, atenção, compaixão. Mas não é possível dividir a dor.
O peito que dói ao respirar é seu.
Você olha ao lado, e seus olhos, seus gestos, eles pedem socorro, mas ninguém quem ouve, ou vê, e nada faz.
Penso que tal qual a informação, os sentimentos estão cada vez mais narcotizados.
Eu te amo tornou-se palavra barata, na boca de qualquer vulgar.
Temos a sensação de estarmos fazendo a diferença na vida de quem amamos, mas não estamos fazendo nada.
Se bem que fazer a diferença acaba sendo também uma questão de ponto de vista, você pode sim fazer a diferença, mas para o pior.
Não estou discursando do alto do meu pessimismo, na verdade eu nem me considero pessimista.
Discurso de dentro de mim, lugar cada vez mais inabitado, endurecido e cheio de cicatrizes.
Não quero frases de Clarice Lispector, frases que, pobre Clarice, jamais escreveu.
Quero o que quero. Que nem sei o que é. Mas que tenho direito.
Escrevo não por insatisfação, escrevo por inquietude.
Conhece almas inquietas?
Sabem o que elas buscam, do que elas precisam?
Única e exclusivamente de verdade.
Verdade, elemento raro, em extinção.
É a verdade do sentimento que leva ao gesto.
Não basta um coração cheio de boas intenções.
Precisa braços fortes cheios, de vontade.
Pernas fortes, cheias de disposição.
E consciência?
Quisera as pessoas ter uma consciência tranquila.
Tranquila a ponto de saber que deram de volta tudo o que receberam.
Mas gratidão não se ensina na escola, ensina-se sim, na vida, e para isso, precisa-se de observação, e observar é característica de gente inteligente, disposta, atenta.
Pessoas assim. Muito poucas.
Sigamos. Na tentativa de sobreviver num lugar onde a esperança é um fio.
Mas se ainda há um fio, lutemos por ele.