Sempre me perguntei como se
mede amor, como se mensura sucesso, como se quantifica o que se conquistou
durante a vida.
Junto com essas perguntas
sempre pensei se vale mais à pena valorizar quem não tem nada e fez tudo, ou
quem tem tudo e de certo modo fez alguma coisa também.
Quanto vale o amor?
Nunca tive noção exata até
conhecer Maria.
Maria tinha no rosto a
expressão de quem não sorria há muito tempo.
Os olhos eram assustados, escondidos por trás de um óculos pesado, de lentes grossas, que claramente
denunciavam que os não enxergavam como antigamente.
Maria. Sempre gostei desse
nome. Acho simples, singelo, cheio de doçura, e não era diferente com essa
Maria.
As mãos de Maria tinham
manchas, típicas da idade que carregou, dos filhos que segurou, das lutas que
venceu, se tivesse eu, percebido Maria mais cedo, talvez houvesse tempo de saber
os detalhes de cada uma daquelas manchas, os fatos que as puseram naquelas mãos
que já haviam sido jovens e mais firmes, mas não eram mais, eram mãos simples,
marcadas, eram mãos Maria.
Maria passara pela vida
quase que despercebida. Origem simples, família simples, um número numa
estatística que eu nunca prestei muita atenção.
Tivera filhos, me disse, os
quais amou com toda a intensidade, eram diferentes, porém, não os trocaria por
nada, essa afirmação era facilmente justificada quando Maria relatou o quanto os
sonhou, porque vieram do amor, o amor pelo qual Maria se dedicou, mas que
acabara, porque além de todas as fadigas que carregava, perdeu-se de amores e ficou só, sim de
solidão entendia.
Era visível que o coração de
Maria não sorria. Mas coração sorri? Pensei. Coração sorri quando a intensidade
do que faz feliz alcança a alma, a alma de Maria talvez nunca tivera sido
feliz.
Observei seus gestos, seu
falar, sabia pouco das novidades do mundo, mas era certo que sabia demais da
vida. Parecia não saber o que fazer com o que aprendera, mas era Maria, e por
ser Maria podia ser perdoada.
Ela falava demais, e eu via
que a necessidade era a de ser ouvida.
A vi chorando, certa vez. Um
crime. Maria não podia chorar, o que levara Maria a ter tanta dor em seu peito a
ponto de sentir-se mal, apenas por existir? Ninguém pode chorar por não saber o
seu lugar, nem a quem pertence, muito menos Maria.
Ao perguntá-la o que a
deixaria feliz, a resposta quase não se voltou efetivamente para si, a
felicidade estava em seguranças para os outros. Compreensível, era Maria, e
para Maria não poderia ser diferente.
Como se mede o amor?
Quem merece amor?
Devo eu exaltar suas
vitórias ou expor seus fracassos?
Entendi porque Maria não tem
um tesouro juntado na vida.
Entendi o porquê tesouros
podem ter pesos diferentes para mim e para você.
Vi dor em Maria quando a
olhei e com o olhar a julguei como quem passou pela vida e não tem nada, além de solidão.
Me envergonhei.
Quisera todos fossem como
Maria.
Quisera eu poder cantar a
ela, todos os dias suas qualidades.
Mas não sei de Maria.
Talvez não a veja novamente.
Só sei o que levo em mim de algo Maria, sei do segredo que me contou:
Amor não se mede por quanto
você conquistou na vida, nem por quantas vezes você disse que ama a alguém em voz
alta.
Amor se mede por lágrimas
engolidas, refeições passadas ao outro, noites de trabalho, cuidado com quem se
ama.
Aprendi de Maria.
Abracei Maria, na esperança
de ser um dia tão digno quanto ela.
E foi assim, que uma Maria
mudou a minha vida.