quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Há sol


É apenas um dia ruim.
Estou repetindo isso para mim mesmo há tempos.
É apenas um dia ruim.
Mesmo que escapando por entre os dedos não posso deixar ir o que me mantém vivo.
Seguro em mim a esperança, o fio de alegria, o amor.
Coisas ruins acontecem.
Às vezes em grande escala.
“É a vida”, um conformista me diria.
 Já um pessimista diria: “No seu lugar eu não aguentaria”
E eu, onde me encaixo?
Impossível ser naturalmente positivo agora.
Embora, ter uma postura rude me tornaria ingrato.
Como reagir quando o plano dá errado?
O que fazer quando todos vão embora?
O que sentir quando não há espaço para mais nada?
Olho pela janela e vejo paisagens em preto e branco.
O som é ruidoso, insuportável.
Tudo o que toco é áspero.
Não encontro posição para dormir.
A água passou a ter gosto, e não ele não é bom.
Estou à deriva, no meio do oceano, em pé agarrado a uma madeira, num espaço pequeno, o mar se agita.
Mas há sol.
E sol é sinal de esperança.
Sinal de que tudo pode mudar.
Até lá continuarei a repetir.
É apenas um dia ruim!
Mesmo que sejam muitos.
Serão para mim, apenas, dias ruins.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Por falar em lugares que só chega quem amou...


Chega um dia onde o seu mundo é virado de pernas para o ar.
Tudo está bem, e de repente, o chão é tirado.
Você ria até então.
Não que a vida fosse simples, ou fácil, mas estavam todos ali, e isso, bom, isso fazia tudo ser possível.
O telefone toca, ou o médico adentra a sala.
Há pesar na voz, há receio nos olhos.
E as temidas palavras estão todas unidas, ressoando na frase que você não quer ouvir, que não esperou ouvir, que ninguém está pronto para ouvir.
Mas quem se importa?
Tudo muda. E tão rápido.
Não há palavras que expressariam com fidelidade a dor.
Sim, todos partiremos um dia, mas como lidar com um corpo vazio?
Há olhos, mas nunca mais haverá olhares.
Há braços, mas os abraços, ah os abraços se foram para sempre.
Tudo se reúne agora a uma caixa de lembranças.
Tudo o que aconteceu, tudo o que fora vivido, lembranças.
Dói. Pensar dói. Lembrar dói. Respirar dói.
Você olha pro céu e sente que talvez não consiga.
É dor demais. Chorar dói.
Abraços. Palavras. E tudo o que você espera é acordar. Tudo o que você espera é um milagre.
A realidade é dura demais, e milagres nem sempre acontecem.
Todos vão embora.
Voltar para casa dói.
Recolher as roupas, olhar as fotografias espalhadas nos móveis.
Quem disse que viver só de lembranças é possível?
Quem ensina a deixar partir?
Quem diz para o coração que por mais que assim sintamos, não somos uns dos outros?
E o tempo passa.
O medo.
Você não lembra mais da voz.
Você se confunde se as memórias são mesmo reais ou são fotografias criadas.
Você volta a sorrir.
Você se culpa por sua vida continuar.
E o tempo passa.
E chega o momento em que a dor dá lugar a saudade.
Que a sensação é de que o que separa vocês, seja apenas uma viagem.
Há dias em que coisas boas acontecem e o que você mais queria era dividir, e percebe que não tem como.
Pois se foi.
E mesmo assim o amor cresceu.
E mesmo assim você se sentiu cuidado, protegido.
Os anos passam e a lembrança vem visitar todos os dias.
Mas no fundo, lá no fundo, você pensa:
Daria tudo para te ver novamente.
Ao menos uma vez, te ver novamente.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Por mim


Âncora.
Tudo menos âncora.
Se eu não conseguir ser bom, que eu não seja nada, que eu fique inerte, mas âncora não quero.
Não quero trazer ninguém para baixo.
Não quero usar o tenho, fazer o que sei, para o mal.
Não, não estou triste, estou espantado.
Para mim é simples.
Talento, trabalho, amor, determinação, honestidade, bondade, fé.
Junto todos esses elementos e levo a minha vida.
Não precisa de especulações.
A vida é solitária.
No fim, sou eu comigo mesmo.
O que torna o caminho possível, é a beleza da paisagem, são as histórias que ouço.
São as histórias que eu conto.
Ou sorrisos que provoco, os beijos que roubo.
São os abraços de alegria,  é o ombro na saudade.
Não precisa de especulações.
Não precisa de violência.
Tem que ser terno, e doce.
Não me violente.
Não me ancore.
Apenas viva. Lute. Se for preciso lute mais.
Não queira ter de mim o que eu não quero te dar.
Não confunda a minha docilidade com permissão para entrar e mexer no que bem entender.
Eu tenho reservas. Tenho limites.
Eu sou contrários, sou reversos, eu sou metáfora.
O direito de cada um deve ser respeitado , a vontade de cada um deve ser respeitada.
Nessa hora o que conta é prevenir danos, dores e sofrimento.
Por isso essa distância me fará sempre bem.
A você, liberte-se.
Voe. Como bolas de sabão.
Como pássaro que acaba de ser liberto.
Como quem quer ser feliz. E para isso apóia-se apenas no que é bom, no que é digno.
Voe.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre a força


E você se mantém forte.
Por mais que tudo ao redor desmorone.
Por mais que seja como uma avalanche prestes a te devastar.
Você opta por ser forte.
Pernas fortes para ir além.
Braços fortes para carregar o que for preciso.
Ombros fortes para apoiar o que vier.
Às vezes parece que conseguir não será possível.
Às vezes você chora, escondido.
Ainda há medos. Ainda há receios.
Mas você se mantém forte.
Não porque quer, porque precisa.
Porque se fraquejar agora, como seria o final da história?
E todos que você traz consigo?
E toda batalha já ganha?
Você levanta a cabeça, olha para frente e recupera o fôlego.
Respirar fundo se faz necessário.
Respirar fundo te acalma, e te mostra que por mais duro que seja o momento, ele é só um momento, e momentos passam.
E certo de que vai passar, decide ir adiante.
Mostrar a todos do você que é feito.
E ir ao encontro do novo.
Que pode ser assustador.
Mas nesse momento, é tudo o que precisa.