Dias atrás conheci Ana.
Jovem, feliz, motivada.
Ana se vestia bem, usava o batom da
estação.
Andava como quem tinha pressa, como
quem sabe onde quer chegar e não tem medo do caminho.
O que não pude deixar de ver eram as
cicatrizes.
Ana sofrera, ainda criança,
queimaduras de segundo grau no rosto todo.
As marcas, que a princípio me
sensibilizaram, por tamanha dor que supus Ana ter sofrido, me fizeram, num
segundo momento, refletir.
Como alguém com marcas tão visíveis pode
ter passos tão firmes?
Como alguém que tem no rosto, a
estampa do que mais de dolorido alguém pode passar, mantém a direção tão
determinada?
Do que me peguei pensando, tive medo
de ser Ana, e de ter ali, visível, a quem quiser ver, e desprezar, as minhas
marcas, e não saber lutar.
Mas quem me dera...
Quem dera ser como Ana, e lidar tão
bem com as cicatrizes das feridas que tive.
Quem dera poder andar como quem quase
não se importa com o que passou, mas que tem olhos fixos no que virá.
Quem dera que por um minuto fosse
Ana, e a sendo, soubesse seguir em frente.
Dias atrás conheci Ana...
E ela mudou a minha vida.